sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ISSO TUDO SEU FERREIRA?


Infelizmente, um dos grandes vícios que assolam os mais antigos integrantes do fisco, é o alcoolismo, talvez levados pelas longas jornadas distantes da familia e em lugares ermos, muitas vezes sozinhos, daí para se tornar um alcoolatra é um passo.
Conheci em minhas andanças por diversas partes deste estado, postos fiscais que quando você ali chegava, podia procurar amoitado nas proximidades que lá estava um bom estoque de aguardente, quase sempre litros e mais litros da conhecida 51, muitos colegas tendo se enveredado por esse caminho sem volta, tendo eles perecidos ainda novos, levados pelo desbragado consumo do alcool.
O nosso “causo” de hoje, contado pelo próprio protagonista, se passou com um colega a quem vamos chamar apenas de Ferreira, que tendo ido trabalhar em um posto fiscal na região sudoeste do Estado, lá se achou sozinho, sem uma viatura e sem qualquer boteco por perto.
Tendo que ficar dez dias corridos naquele chapadão de terra vermelha, acostumado ao consumo de altas doses diárias da “marvada branquinha”, no segundo dia ele já estava quase que em crise de abstinencia, suando frio e tremendo, tamanha era a necessidade de ingerir sua dose diária do “combustível” que, de há muito, era a força motriz que o empurrava para frente.
Na madrugada do terceiro dia, passando por ali uma camionete de um leiteiro ele o indagou como fazer para tomar um “mézinho” , tendo aquele lhe informado que o armazém mais perto distava mais de sessenta quilometros do posto, deixando assim o
Ferreira quase que em estado de prostação e desanimo. Eis que duas horas depois, passa por ali um cavaleiro e ele faz a mesma indagação, tendo tido melhor sorte quanto ao seus propósitos, já que o seu interlocutor disse que a cerca de dois quilometros dali, existia uma fazenda onde tinha um alambique, e que por certo ele adquiriria lá o produto para atender ao seu vicio.
O sol ainda estava espantando suas remelas, e ele se pos a caminho rumo à fazenda, demorando pouco mais de meia hora para lá chegar. Se sentiu no paraiso, pois imensos tonéis de quinhentos litros de aguardente se espalhavam pelo local, de pronto, tendo ele sido servido de uma talagada, copo cheio, graciosamente oferecido pelo proprietário, a qual sorveu em duas grandes goladas. Gastou pouquissima conversa e logo adquiriu um litro do precioso líquido e se pôs a caminho, de volta ao posto. No decorrer dos dois quilometros foi consumido quase que todo o aguardente, pois quando chegou ao seu local de trabalho, no fundo do litro restava pouco mais do que um dedo do produto.
Na parte da tarde sentindo que o organismo ainda se ressentia pela falta de consumo, retorna ele à fazenda e adquire dois litros, tendo esses durado até a manhã seguinte.
Ainda escuro, cerra as portas do posto e, olha ele de novo, caminhando rumo ao alambique, inclusive lá tendo que esperar quase que meia hora, pois o proprietário ainda não havia assumido suas obrigações diárias. Matutando, olhando para os grandes e vistosos tonéis repletos da “água que passarinho não bebe”, teve uma idéia e tão logo o dono chegou ele lhe perguntou: “ se eu lhe comprar, o senhor tem condições de me mandar um tonel desse lá para o posto?”. Ante a consulta meio inusitada, o alambiqueiro lhe respondeu, perguntando: “uái o senhor vai abrir um boteco lá?”, no que o Ferreira lhe respondeu: “ não. É para consumo próprio, e imediato,é que já estou cansado desse ir e voltar, pôxa!. Toda vez que eu chego lá eu já bebi o que eu comprei!”. O alambiqueiro, abismado, não se conteve: " issssso tudo seu Ferreira, quinhentos litros?"
Se o fabricante vendeu e se ele consumiu tudo, ele não contou, só se sabe que felizmente, hoje, o Ferreira exceto uma ou outra pequena recaída, não mais consume alcool de forma tão descomedida, inclusive tendo melhorado até mesmo o seu as, pecto físico, pois se naquele época o seu aspecto era de um velho de quase noventa anos, agora voltou a aparentar só uns setenta, embora só conte com meio século de existencia.

José Domingos.

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