sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ESSA QUEM PAGA É O KUBITSCHEK


Nas nossas labutas diárias muitas foram as situações que se fixaram em nossas memórias e que, quando relembradas ainda nos fazem rir, pois boa parte delas, não obstante o cansaço e desgaste físico de longas jornadas, sempre trazem uma boa pitada de humor.
Com isso me veio á memória uma ação fiscal em que nos achávamos, o Sebastião Araujo, o Paulo Assakazo e Eu que, em função de uma denúncia anônima estávamos em alta madrugada numa estrada vicinal no municipio de Faina, à espera de um caminhão carregado que, segundo o nosso informante, embora estivesse acompanhado de uma nota fiscal de milho (cujo ICMS era baixíssimo) a quase totalidade da carga seria de feijão, com apenas algumas sacas do produto para o qual fora emitida a nota fiscal.
Nem de longe a aurora ainda não se fazia anunciar no horizonte, eis que lá longe desponta o caminhão que, abordado e solicitada a nota fiscal essa era mesmo de milho, Teve então a sua carga conferida, sendo que tão logo se meteu o chucho no meio dos sacos, esse na sua volta veio cheio de feijão, causando um profundo nervosismo no Kubitschek, o proprietário da carga que a acompanhava, nosso velho conhecido de muitas outras ações fiscais.
Considerando que o melhor local para uma conferencia mais detalhada de toda a carga seria O onde fosse melhor iluminado, e como o destino dela constava Sâo Miguel do Araguaia, sem que desviasse de sua rota, os fizemos nos acompanhar até o posto da policia rodoviaria de Araguapaz.
Perguntado quantos sacos de feijão havia no meio da carga, mais do que candidamente o Kubitschek respondeu: “ em nome de Jesus, só tem setenta sacos”, no que não acreditamos e tivemos que descarregar a carga toda( isso feito por nós, pois chapa o Estado não nos disponibilizava), sendo que contamos 173 sacos de feijão, sendo o restante de milho que cobria a carga pelo lado de fora.
Tendo então sugerido ao proprietário da carga que não utilizasse o nome do Filho de Deus em vão, principalmente em suas trapalhadas, ao mesmo tempo em que recusei receber um cheque de sua emissão para quitar o auto de infração, pois num passado recente ele havia me dado muito trabalho com um outro cheque por ele emitido para quitar débitos também em ação fiscal.
Ante a recusa do seu cheque, o autuado então propôs que recebessemos um de emissão de uma pessoa residente ali em Araguapaz, o que assentimos após, via telefone, acordar e consultar o chefe da agenfa local se daquela pessoa ele acolhia o cheque para o devido recolhimento no que aquele concordou, tendo então o Paulo Assakazo levado o dono da carga para apanhar o cheque .
Ali enquanto o amigo de Kubitschek emitia a ordem de pagamento em favor da sefaz, Paulo observou que existia um corredor paralelo à residencia e, lá no fundo um imenso galpão, o que lhe despertou a curiosidade, principalmente pela relação dos envolvidos, portanto devendo ser de atividades comerciais idênticas..
No outro dia após efetuar o recolhimento, já tendo o caminhão de feijão seguido o seu destino, o Paulo mais o Sebastião Araujo se deslocaram incontinentimente para o local onde o primeiro estivera na madrugada anterior. Ali notou que o portão estava aberto e percorrendo o corredor adentrou ao galpão onde cinco pessoas trabalhavam, constando que o local armazenava dois trezentos e oitenta sacos de feijão totalmente sem cobertura de documento fiscal.
Após a longa argumentação que se procede nesses casos, tão comum aos “comandeiros”, outra opção não coube ao proprietário do que assinar o auto de infração, não sem antes vociferar um sem número de impropérios contra o seu colega do ramo, sendo que na despedida, segundo me narrou à época os colegas, ele assim se manifestou: “essa quem paga é o Kubitschek!”

José Domingos

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