sexta-feira, 12 de novembro de 2010

VAI UMA LARANJINHA AÍ?


Embora hoje estejamos vivendo dias bem melhores, seja no aspecto salarial, seja nas condições de trabalho, já passamos por períodos bem difíceis, principalmente quando o país enfrentava uma inflação galopante e os nossos salários se defasavam pela metade de um mês para o outro.
Na custosa travessia desse período que não foi curto, se quiséssemos contar com apoio policial no comando volante para maior segurança, tínhamos que estar preparados para bancar as despesas de alimentação dos dois soldados que nos acompanhassem, pois pelas normas da corporação eles só podem sair de dupla para tais atividades, e diária por aqueles tempos, nem pensar.
E foi assim que certa feita, na delegacia fiscal de Goiás, um colega auditor, de nome Pedro Sena, que não pode prescindir de apoio policial para uma atividade, teve enorme dificuldades em conseguir dois PMs de voluntários para trabalhar com ele, dado que era para lá de sovina e tal costume era, de todos, conhecido. Depois de muito se buscar, só mesmo recorrendo ao quartel do sexto batalhão policial sediado na antiga capital que colocou o apoio militar solicitado à disposição de Pedro, não sem antes, os dois policiais destacados para a atividade terem sido informados da sovinice do fiscal, portanto ficaram na expectativa de como iriam se alimentar, vez que se o salário do Fisco estava defasado, o deles, coitados, estava ainda mais.
Depois de muito rodarem, tendo já passado do meio-dia, treze horas, quatorze horas, os dois soldados já, conforme antiga fala popular, “com os olhos pregados na nuca”, tamanha era a fome, olhavam um para o outro e nada. Já se aproximava das quinze horas quando, finalmente, Pedro Sena estaciona a viatura debaixo de frondoso jatobá à beira da estrada e diz: “ é, tá na hora de nós fazermos uma boquinha, né?”, dito isso contorna o carro, abre o porta-malas e retira de lá duas únicas laranjas, passa uma delas para um dos policiais e diz: “ vai uma laranjinha aí?, como só são duas, vocês repartem esta para os dois”.
Se a fama de pão duro de Pedro Sena já era grande, depois desse episódio, não só aumentou, como ele passou a ser conhecido no nosso meio, como “laranjinha”, tendo isso no início dado muita confusão, pois ele apelou muito e com isso o apelido “pegou”, pois os colegas para vê-lo nervoso, ao passar por ele, lhe perguntavam: “vai uma laranjinha aí?”.

José Domingos.

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