terça-feira, 23 de novembro de 2010

PARADA INCONVENIENTE

O nosso colega Divino José, um verdadeiro arquivo vivo de um sem número de histórias interessantes, sempre que procurado, tem um novo “causo” a nos contar.
Conta ele que quando trabalhava na delegacia fiscal de Iporá, onde esteve por um longo tempo, fez dupla em trabalho de auditoria com os mais diversos colegas, cada um deles tendo uma peculiaridade, o que é mais do que normal, pois isso é inerente ao ser humano, de cada um ter especificidades que os diferem dos demais. Assim ele conta que já trabalhou com quase todos os tipos que compoem os famosos sete anões da fábula da Branca de Neve, ou seja com fanfarrões, com zangões, com alguns que só não eram mudos pois respondiam monossilabicamente, isso se perguntados; e também alguns de hábitos diferenciados, como um que só gostava de fazer as suas necessidades fisiológicas no mato, por isso, quando estavam viajando o Divino José já tinha certeza que mais horas, menos horas, ele seria solicitado a parar a viatura para que o colega se desapertasse debaixo de alguma frondosa sombra à beira da estrada.
Certa feita após concluirem um trabalho de fiscalização de uma empresa de Montes Claros de Goiás, para lá se deslocaram os dois saídos de Iporá, para apresentar a conclusão do seu trabalho, com diversas autuações. Já enxergando a cidade de destino, o colega como lhe era de costume, vendo uma vasta vegetação composta de mamoneiras, nascidas no local onde era despejado o lixo da população monteclarense e, à falta de um local melhor, disse ao Divino que parasse o carro pois que ele precisava descarregar o que lhe ia pelo intestino, já que os sinais já se faziam notar com insistência.
Enquanto o colega seguiu apressadamente mamonal a dentro, o Divino José desceu da viatura e ficou por ali, observando o monturo de lixo, sendo que teve despertada a sua atenção, possuidor que é, de uma grande perspicácia e aptidão para a fiscalização, que do meio de alguns papéis sobressaia, nitidamente, uma nota fiscal de mercadoria destinada a empresa, que não deveria ali estar, pois teria que ter sido contabilizada e guardada. Se aproximando e apanhando o documento, qual não foi a sua surpresa ao ver que não era só uma, mas umas quarenta e, coincidência das coincidências, todas elas tendo como destinatária a empresa que eles haviam fiscalizado e para a qual estavam se dirigindo.
Ante o fato quando o colega retornou do seu desaperto e posto ciente da descoberta, dali mesmo retornaram e refizeram o trabalho acrescido agora das notas que haviam sido colhidas no lixão de Montes Claros, e quando concluíram finalmente o trabalho, mais uma vez rumaram para lá, sendo que desta feita não houve nenhuma parada na estrada.
Apresentada a conclusão e os autos de infração que haviam sido feitos, Divino José não se furtou a contar o acontecido, ressaltando que se não tivessem sido descobertas as notas jogadas lá no lixão, da outra vez que para lá se dirigiam, a multa teria sido menor, bem como o que os levou a fazer tal parada. O comerciante olhou fixamente para o outro fiscal, e no mais alto bom humor, assim se manifestou: “ Ô parada inconveniente, hein? É. O senhor que vai no mato prá defecar e a merda sobra é prá mim. Bonito, hein?”.

José Domingos

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