terça-feira, 16 de novembro de 2010

O CAVALO QUE VOOU


Já foram nesse espaço, contados vários “causos” narrados pelo meu amigo João Felipe, marceneiro dos bons, residente em Goianésia, sendo o de hoje um dos melhores que eu já o vi e ouvi contar, tendo de novo ele e o pai como protagonistas o que, aliás, compõe boa partes das suas ricas narrativas.
Proprietário de um imóvel rural pelas cercanias do rio corumbá, o seu João, genitor de João Felipe, tinha um baita cavalo alazão, grande e cuja estampa despertava a cobiça e a inveja de muitos vizinhos. Certa feita depois de quase uns três dias sem aparecer “na porta”, termo rural utilizado para as imediações da casa, o seu João disse ao filho que, ou o seu cavalo havia sido roubado ou teria morrido. Decorrido mas dois dias e chegado o final de semana, João Felipe foi convidado pelo pai a sair procurando pelo animal, não sem antes o fazendeiro se municiar do seu inseparável embornal onde carregava canivete, cordão, agulha grande, parafusos e um sem fim de miudezas, acostumado que estava a resolver situações pelos pastos e matas.
Depois de uma boa, porém difícil caminhada, ao adentrarem a um descampado, avistaram ao longe um revoo de urubus, no que o seu João disse ao filho: “ é João Felipe, perdi o meu cavalo, aquilo lá na frente, aquela festa de urubus é o repasto que estão a fazer dele. Não deu outra, quando se aproximaram depararam com a triste cena das aves catartidiformes a entrar pelos flancos do animal morto ,e fazer uma tremenda algazarra.
Contrariado com aquela cena o pai de João Felipe, por gostar tanto do cavalo, montou em seu dorso e sacando do embornal a agulha e o rolo de cordão ,se pôs a costurar o buraco que fora feito pelos urubus, sendo que fechado esse, e permanecendo uma grande quantidade de aves no interior do corpo, essas começaram a bater asas e conseguiram levitar o cavalo e eleva-lo a uma boa altura e ganhar voo.
Desesperado o ainda pequeno João Felipe corria atras e gritava para o seu pai descer, o que já não era possível, uma vez que o cavalo estava “sendo voado” pelos urubus que batiam as asas e já estava bem alto, mesmo assim de onde estava o menino pôde perceber como o seu pai era “danado de sabido”, pois sacara do canivete e com ele fizera um corte lateral na barriga do cavalo morto e tirando um urubu de cada vez, conseguiu planar bem o corpo e manobra-lo com maestria , e dosando as retiradas dos urubus de dentro dele, fez com houvesse uma aterrizagem suave e sem sobressaltos à porta de sua casa, local que João Felipe chegou todo esbaforido, suado e arranhado de tanto correr atras do “cavalo que voava”, sem sequer olhar para o chão.
José Domingos

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