quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ZÉ QUEROZENE


Durante a campanha de 1996 para prefeitos e vereadores, quando eu estava concluindo mandato de vereador na cidade de Goiás, não sendo candidado à re-eleição, fui convidado e participei, discursando em comícios não só no meu município, mas também nos mais próximos, tendo num deles acontecido o que hoje centraliza o nosso “causo”.
O local escolhido e previamente preparado, era bem iluminado, num largo de um distrito perto de Goiás, estando bastante cheio pois, á falta de atrações maiores que poucas já eram por ali, o comício da noite prometia quebrar a pacata rotina do povoado.
O palanque era um caminhão estacionado de travesso, de forma que a sua carroceria abrigasse e destacasse para o público todos que a ela tivessem acesso. Porém antes que isso se desse, os que iriam compor o grupo de oradores(candidatos e convidados) se postaram por detrás do caminhão e litros e mais litros de aguardente, quase sempre a velha, conhecida e usada pinga 51, eram secados com rapidez, o líquido sendo sorvido com sofreguidão, no gargalo, o litro passando de mão em mão, muitas vezes sequer dando para uma rodada completa. Está aí, o combustível que vigoriza a muitos candidatos que, inibidos, timidos no dia a dia, no palanque discursam e vociferam tal e qual alguns oradores que encantam as multidões.
Todos já tendo subido ao palanque, o “mestre de cerimonia” a medida que chamava candidatos aleatoriamente, sem qualquer organização prévia, sempre cochichava no ouvido de cada um que fosse breve. Para a pompa e magnitude da ocasião, escolheram para esse papel de destaque, de dirigir o evento, um filho da localidade que havia se mudado para Goiania onde estudava. Cioso da importância do que estava fazendo e querendo mostrar intimidade e conhecimento com todos, àqueles de quem não sabia o nome, buscara se informar antes, por isso ao chamar um dos pleiteantes ao legislativo municipal da localidade, utilizou o seu apelido, já que fora assim que lhe disseram(por gozação), embora não soubesse ele, que o cidadão abominava tal tratamento: “convido agora para fazer uso da palavra o candidato a vereador Zé Querozene!”, a plateia , cuja maioria conhecia a ojeriza daquele pelo apelido, ficou em silencio olhando estupefata e aguardando o desdobrar dos acontecimentos. O candidato que por detrás do caminhão antes do comício, fora um dos mais hábeis na tarefa de levar o litro de 51 à boca, e cujo apelido nada mais era do que uma alusão a tal hábito, encarou o animador do evento e disse ao microfone : “ o meu nome é José Benevides, Zé Querozene é a puta que te pariu!”. Ante tal pronunciamento partiu uma sonora vaia do publico, no que “Zé Querozene” ainda de microfone em punho, bastante irado, vociferou: “vocês acharam ruim? Então vão junto com ele, a puta que pariu!”, assim não foi mais possível o candidato discursar, pois apupado por longos minutos seguidos, desceu enfurecido do palanque e se retirando do local. Abertas as urnas daquela eleição, tive a curiosidade de saber quantos votos tinha obtido o senhor José Benevides, dito e conhecido por "Zé Querozene", constatando que as suas pretensões haviam ficado em apenas seis votos, pois esse foi o número de pessoas que o escolheram, por certo os seus parentes mais próximos.

José Domingos

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