terça-feira, 17 de agosto de 2010

A ASSOMBRAÇÃO

Tenho um amigo, emérito contador de histórias, daqueles que já deve ter contado o mesmo "causo" mais de mil vezes ele mesmo acreditando, portanto, ter acontecido as situações que ele narra fielmente, pois só eu já ouvi a que hoje aqui transcrevo, por muitas dezenas de vezes, sempre detalhada e explicada da mesma forma.
A nossa personagem, real, é João Felipe, morador de Goianésia, profissional competente na arte da marcenaria enquanto a saúde lhe permitiu trabalhar. Conta ele que na sua infância, um cemitério que ainda existe até hoje, na estrada pela qual se transita para chegar até o posto fiscal João Pinheiro, às margens do rio paranaiba, era tido como mal assombrado.
As pessoas que por ali transitavam, contavam que em noites de luas claras, sempre soprando uma forte ventania, quando passavam em frente do campo santo, não era raro ouvir uma maviosa voz feminina, muito bonita ,a entoar pedaço de uma então famosa canção da época: "acorda Maria Bonita, levanta vem fazê o café...."., ou então: "chega de sofrê, chega de pená...", ou alguma outra canção do mesmo estilo.
Assim as pessoas "cortavam volta" para não ter que passar pelo cemitério à noite, com medo da já famosa assombração. João Felipe que sempre venera e idolatra a figura do seu amado pai, relata que ele era bastante corajoso e que ao tomar conhecimento de que esse fato lhe disse: "João, embora moremos a algumas léguas daquele lugar, qualquer dia desses irei ver de frente esse tal de fantasma que faz tanto medo nos outros". Dito pronunciado, dito feito. Tendo a noticia corrido pelas redondezas, na noite marcada, o pai de João Felipe, acompanhado de um grande pelotão de curiosos, à cavalo se deslocou para as cercanias do cemitério. Tendo amarrado os animais a uma prudente distância, a comitiva cautelosamente vai se aproximando do portão, o v ento gelado a lhes bater de frente, e já bem próximos da entrada, eis que escutam nitidamente:"acorda Maria bonita...", foi uma correria e uma debandada geral, sómente o corajoso pai de João Felipe seguiu em frente, destaramelando o portão e adentrando ao campo santo, sempre ouvindo a cantoria, agora mais nítida, vinda do fundo do cemitério, para onde ele se dirigiu.
Daí a pouco os seus medrosos companheiros escutaram os seus gritos, não de medo, mas chamando os, misturados esses com muitos risos, quase a gargalhar. Somente após muita insistencia do pai de João Felipe é que os acovardados foram se aproximando e puderam então presenciar uma insólita cena, causadora de tantos medos: como ainda é costume até hoje, de muitas pessoas pedirem que nos seus túmulos sejam colocados alguma coisa que em vida muito lhes agradou, naquele que agora era apontado pelo pai do João Felipe estava afixado um LP de vinil, certamente com as músicas que volta e meia eram ouvidas pelos assustados passantes.
Ficaram um a olhar para o outro, não entendendo o que provocava a cantoria, vindo então a explicação que, segundo João Felipe foi presenciada pelo seu querido pai: existindo uma roseira bem no pé do túmulo e com grandes galhos, nas noites de ventania esses se curvavam com os seus compridos espinhos até o LP, fazendo então que se soasse a cantoria. Verdade!!!!!!!

José Domingos

Um comentário:

  1. José Domingos, tenho lido os seus causos e achado muito interessantes e engraçados. Esse último, então, é para dar gargalhadas...rs.
    Hernando

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